




A autora de desterros fala sobre as vidas do lado de dentro do presídio, sob a ótica de uma médica psiquiatra que, durante os anos em que trabalhou no hospital da penitenciária do estado, acabou contrapondo e misturando sua realidade e sua vida à vida das pessoas que conheceu ali. A personagem real e principal, é uma presidiária angolana. Os pés e os sapatos, elementos escolhidos no design do livro que aparecem a todo momento, são realidade e simbologia, tanto por serem o motivo pela qual a mulher negra é presa, traficando drogas dentro de sapatos, quanto para o encontro dela com o sapato branco, da médica branca. Os pés descalços são movimento de desterrar-se. A cor é o bronze, o brilho da pele negra, a cor também da terra. O livro é cheio de linhas brancas e pretas, que se encontram, desviam, se sobrepõem, simulando os caminhos. Também são linhas que se encerram e que criam pequenas e grandes prisões, que dividem, segregam, que distanciam, mas que também se abrem em pontilhados que irão permitir que as relações humanas aconteçam, mesmo na dura condição de cerceamento de liberdade. O livro tem uma narrativa principal, que conta a história da personagem-real principal, e esse texto é identificado ao longo do livro na cor bronze e com alinhamento solto, à esquerda. Os demais textos, sobre outros presos, que vem intercalando essa narrativa principal, são "justificados". A todo tempo o design conversa com o que está sendo dito. Capa: Bianca Oliveira & Karen Ka Projeto gráfico e Direção de arte: Bianca Oliveira